O empresário Roni Cleber Sandrin de Moraes tem 34 anos e atua no ramo de motocicletas. A sua loja de motopeças funciona no bairro São Cristovão, em Guarapuava. É casado e tem uma filha. Nas horas vagas, entretanto, se reveste de saudades e administra a página Guarapuava Histórica no Facebook. A comunidade, ativada no dia 22 de fevereiro deste ano, já possui 5.500 seguidores. Através da postagem de fotografias antigas, Roni proporciona viagens ao passado em um clique.
A “máquina do tempo” acessível pela rede social tem gerado burburinhos na cidade. Todos os dias, dezenas de pessoas mandam para a página fotos dos álbuns de família, acompanhadas de descrições. Os colaboradores querem que todos vejam “o que já não é”. O administrador do conteúdo, então, precisa fazer seleção e edição do que vai ao ar. Muita coisa que recebeu, ainda não conseguiu divulgar. Outros materiais que chegam são repetidos, e ele cuida para que as atualizações sejam sempre de “novidades”.
“A recepção das pessoas foi ótima. Muita gente me ajuda. Às vezes eu edito uma foto de maneira errada, e as pessoas me corrigem, falam que não é aquela data ou aquele local. E assim vou arrumando e tentando deixar tudo correto”, contou Roni, um nostálgico de carteirinha.
A ideia de criar a Guarapuava Histórica surgiu após uma visita que ele e sua filha realizaram ao Museu Municipal Visconde de Guarapuava, no ano passado. O empresário folheou livros e se sentiu motivado a divulgar o que descobrira para todo mundo. Logo, realizou pesquisas na Internet e encontrou muita coisa dispersa. O passo seguinte foi garimpar no sebo e nas livrarias. Pouco a pouco, preparou um pequeno acervo com recortes de jornais e
páginas digitalizadas.
Por fim, criou a página no Facebook, mas não postou nada durante um ano. Somente numa noite ociosa de sábado do último fevereiro ele começou a alimentar o mecanismo online. Pouco mais de um mês após o início das atividades, a repercussão o surpreende. Mais de cinco mil pessoas se identificaram com a ideia, e muitas delas participam com curtidas, compartilhamentos e comentários.
Roni não nasceu em Guarapuava, mas vive no município desde quando era um menino de 4 anos de idade. Morava na Rua Vicente Machado, em frente ao “antigo” Cine Jeane. Sua mãe trabalhava no “antigo” Supermercado Catarinense. É… Só pela maneira como ele dá os pontos de referência é possível perceber que tem no sangue a essência dos guarapuavanos. Afinal, quem nunca falou que determinado local é perto de outro que nem existe mais?
“A minha infância foi muito feliz”, ressaltou, elencando uma série de memórias: “Eu me lembro do Lagrimão, onde ia fazer lanche; do incêndio do Samuara; da Rodoviária no terminal; do campo do Batel onde hoje é o Superpão Hiper; da feirinha na Praça do Paço; das festas da Maçã; do Campeonato de Jet Sky na Lagoa das Lágrimas; da construção do Parque do Lago; do Maverick; do professor Morgado; de comprar bulicas da Casa Losso e na Colosso. É tanta coisa que eu me recordo, que me dá saudades…”.
Para Roni, divulgar as imagens antigas da cidade que ele ama é uma maneira de democratizar a visualização e interpretação das cenas de um município que muda a cada dia. É mostrar o desenvolvimento não apenas de um lugar, mas a construção do sentido da sua própria história: a trajetória de um menino faceiro de óculos escuros posando para foto na Lagoa das Lágrimas de 1985 para um marido e pai no Santuário Schoenstatt de 2014.
“Nostalgia é uma coisa que contagia!”, arrematou o menino-homem.
Fonte: Diário de Guarapuava