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Taxista, o espelho da cidade

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Desta vez, Ari Rebelo não precisa se apressar e nem levar alguém para seu destino. Ele vai deixar momentaneamente o comando de seu táxi para sentar no banco de passageiros e contar um pouco de sua profissão.

Das 6 da manhã ao final da tarde, Ari está a postos no ponto de táxi da Praça Cleve, à espera de cliente para uma corrida cujo destino já está definido. No entanto, é nas mãos do taxista que tudo se realiza.

Dos 58 anos de vida de Ari, seis estão sendo dedicados à profissão. Parece pouco? Pode até ser, diante de companheiros que rodam há pelo menos 20, 30 anos. Mas é que o taxista exercia outra atividade antes de ingressar no mundo das corridas: policial militar. “Trabalhei 32 anos como sargento da Polícia Militar. Passei pelo Paraná inteiro: Curitiba, Ponta Grossa, Maringá, Londrina, Guarapuava, Foz do Iguaçu, Cascavel, Francisco Beltrão e Pato Branco, onde me aposentei”.

Se não é um pré-requisito, a experiência como policial tem servido como um componente a mais na atividade exercida hoje. Segundo ele, todas as profissões têm seus riscos. O bombeiro, por exemplo, corre perigo ao trabalhar na contenção de um incêndio.

O mesmo pode ser dito da ocupação de taxista. “Mas a diferença é que você tem contato com o ser humano. Aqui, no ponto, você ‘pega’ uma pessoa estranha. O risco é muito maior”.

A vivência como PM até ajudou numa situação tensa para muitos taxistas. “Fazia um ano que estava trabalhando neste ponto [da Cleve]. Uns rapazes apareceram e solicitam uma corrida. De repente, no meio da viagem, declararam o assalto. Mas ficou só na tentativa, pois, graças a meu treinamento militar, me defendi e impedi a ação. Depois chamei a polícia e ela prendeu os marginais”. Fora os colegas que são assaltados com frequência, principalmente à noite.

Por isso, Ari prefere trabalhar somente durante o dia. “Digamos que as chances de ser assaltado à noite é praticamente de 100%. Você está parado e chega uma pessoa desconhecida. Não se sabe se é boa ou ruim. No período noturno, isso se agrava”, avalia com base em sua experiência de vida.

Infelizmente, a rotina de violência contra taxista é muito maior do que se pensa. Basta ver a crônica policial. E o rendimento financeiro não é tão alto assim para se tornar alvo dos bandidos. “Vida de taxista é difícil, pois não se consegue ganhar muito dinheiro. Ainda mais em Guarapuava, onde as pessoas não têm muito costume de usar nosso serviço”.

O tempo

Sabe aquela história de “tempo é dinheiro”? Isso vale também, claro, para a profissão de taxista. Principalmente, se levar em conta que o taxímetro não para um segundo durante a corrida.

No entanto, tem um detalhe que passa batido para a maioria: o tempo ocioso, à espera de um passageiro. O que fazer durante essas horas? “É isso que torna a profissão de taxista estressante”, opina Ari, que ocupa seu tempo de espera com leitura e música.

Enquanto alguns colegas gostam de ouvir sertanejo e gauchesco, o taxista de 58 anos prefere música clássica. “Perfeita para relaxar”. Ele tem os discos selecionados para curtir na solidão do táxi, pois, quando entra um passageiro, toma o cuidado para desligar o CD player. “Só ligo se o freguês quiser”, avisa o motorista atencioso.

No campo da leitura, Ari se interessa por quase tudo: literatura, jornais, revistas, boletins etc. Em sua opinião, o taxista tem de ser um cara extremamente informado, que possa falar sobre tudo com os passageiros.

“O taxista tem de ser o espelho da cidade. Ele é o primeiro contato que um turista estabelece com Guarapuava. Todo mundo chama o taxista para pedir uma informação. Por isso, a gente precisa se atualizar sempre, sabendo um pouquinho de cada coisa”.

O psicólogo

É batata. Basta assistir a um filme ou ler uma reportagem (como esta aqui, por exemplo) para se deparar com a manjada frase “o taxista é um verdadeiro psicólogo”. Afinal, apesar de não ser um profissional da cabeça, o motorista ouve e presta atenção aos problemas alheios.

Sem concordar exatamente com o estereótipo, Ari reconhece que as pessoas não abrem apenas a porta de seu carro, mas também o coração delas. A receptividade é imediata.

Claro que nem tudo são flores. “Já embarcou uma pessoa que estava pensando em se matar. Mas se abriu pra mim e eu comecei a conversar. Ela desceu do carro com outro pensamento”, diz Ari, acreditando em seu papel de conselheiro informal.

Mas, claro que nem todos sobem no táxi querendo conversa ou opiniões. “Tem aqueles que vão em silêncio a viagem toda”.

E assim Ari segue em sua vida de taxista, aguardando o próximo passageiro com seu destino definido.